Caroline Schiling Soares
Revista
Brasileira de Nutrição Funcional
A Esclerose
Múltipla (EM) é uma doença crônica degenerativa, caracterizada pela destruição
da bainha de mielina, por um processo inflamatório e auto-imune, provavelmente
associado a desordem genética e fatores ambientais, como latitude geográfica,
dieta, exposição a toxinas, infecção pelo vírus Epstein-Barr, entre outros.
Como a doença é
caracterizada por reação inflamatória com predomínio de linfócitos T CD4+ e
produção de citocinas inflamatórias no sistema nervoso central, há degeneração
dos axônios, desmielinização das fibras nervosas e perda de células da
neuróglia. Há também a participação de linfócitos B, de imunoglobulinas e
componentes da ativação do sistema complemento próximo à lesão
inflamatória.
A disbiose
intestinal também está envolvida na fisiopatologia da EM. Ocorre um desequilíbrio
na microbiota, com predomínio de bactérias patogênicas. Quando a parede
intestinal fica comprometida e há alteração na permeabilidade intestinal ocorre
uma diminuição da sua atuação contra moléculas grandes, gerando uma resposta
inflamatória sistêmica.
O Estresse
Oxidativo é outro mecanismo envolvido na EM. A lesão inflamatória leva a
produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), com dano nos componentes
celulares como lipídios, proteínas e ácidos nucléicos, acelerando a
neurodegeneração.
Além disso, os
produtos de glicação avançada (AGEs) contribuem para a geração de radicais
livres e aumento da expressão de mediadores inflamatórios. Os AGEs são formados
através da oxidação de lipídios e proteínas através do processo de cocção em
altas temperaturas, principalmente grelhados e assados. A N-acetil-L-cisteína (NAC) tem sido usada por inibir os AGEs.
Os hábitos
alimentares e o estado nutricional dos portadores de EM são de grande
relevância no tratamento e na evolução da doença. É preciso levar em
consideração todos os sistemas fisiológicos do organismo e os sintomas
relacionados ao desequilíbrio de cada um deles.
- Dieta isenta de glúten e leite de vaca (e derivados) tem sido relatada como mecanismo protetor na progressão da
doença. As proteínas do leite de vaca e o glúten são de difícil digestão,
aumentam a permeabilidade intestinal e elevam a produção de IL-6, IL-10 e
TGF-ß. Estudos mostram que os portadores da doença podem ter sensibilidade
oculta ao glúten, por apresentarem anticorpos positivos para IgA. Leia mais aqui.
A suplementação
com vitaminas tem sido bastante relatada na literatura.
- A Vitamina C é
importante na cicatrização de úlceras em pacientes acamados, participa da
síntese de colágeno e atua como antioxidante regenerando a vitamina E, importante para converter a B12 na forma ativa.
- A Vitamina D é um
supressor auto-imune e interage com mediadores inflamatórios e com o sistema
imunológico. Tem sido observada a presença de receptores de Vitamina D no
Sistema Nervoso Central e sua deficiência altera a função das células do
sistema imune levando a um perfil mais inflamatório. A suplementação parece
reduzir as taxas de recidiva da doença. Leia
mais aqui.
- A Vitamina B12 é
pré-requisito para a síntese de mielina; A Vitamina
B6 atua na resposta imunológica. Já a associação da B12, B6 e B9 melhora a função cognitiva e a saúde
cerebral.
- Os ácidos Graxos ômega-3
(EPA e DHA) desempenham importante papel na atividade do sistema nervoso,
memória, cognição, transmissão sináptica, plasticidade de membrana, função
antiinflamatória e protetora do sistema imune. A redução na ingestão de gorduras saturadas e trans é
importante para que ocorra diminuição da produção de ácido araquidônico e
formação de substâncias inflamatórias. É importante um equilíbrio entre os
âcidos graxos ômega-3 e ômega-6.
- Duas outras substâncias são importantes: a L-carnitina, atuando no controle do
metabolismo energético e a Idebenona (forma
mais biodisponível da Coenzima Q10) como cofator da cadeia respiratória.
A toxicidade por mercúrio também tem sido reportada como
gatilho para a EM. Lectinas dietéticas encontradas no trigo, feijão, tomate podem aumentar a permeabilidade
intestinal permitindo a passagem de antígenos, causando inflamação e
exacerbando o processo auto-imune.
Cada indivíduo é
único e apresenta necessidades diferentes!! A atuação na inflamação, imunidade,
estresse oxidativo, disbiose, carências de vitaminas e minerais são estratégias
que podem melhorar a qualidade de vida do paciente.
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