sexta-feira, 25 de julho de 2014

“E o Logos se fez site”... Traduções: “And the Logos became site”... “Y el Logos se convirtió en el sitio”...

Oi Amiga, Oi Amigo,

Coloco, abaixo, um texto do Congresso de Teologia que eu e outros alunos apresentamos no Brazil. Foi no Painel de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do III Congresso de Teologia em São Paulo: “E o logos se fez site”. Foi publicado pela editora Loyola, Brazil.

Segue o texto:

A internet é apresentada como uma ferramenta de comunicação. Na verdade é bem mais do que isso: é uma nova forma de se comunicar que exige uma renovação em todo o processo comunicativo. Não vamos nos deter aqui em definir processo comunicativo, e sim em discutir a internet como um tipo de comunicação que não se apresenta como uma opção e sim como um fato. Por ser fato, acontece em todas as dimensões do relacionamento humano. Em especial também na dimensão da fé.

Como pensar a fé frente à dinâmica da internet? Considerando que é uma comunicação rápida, abrangente e muitas vezes solitária, como as religiões podem participar deste “novo mundo” sem perder a sua identidade?

As religiões e a comunicação

Para uma primeira análise, precisamos ter presente que toda religião é fundamentalmente comunicação. Seja o humano se comunicando com o divino, seja o divino se comunicando com o humano. As religiões comunicam suas experiências de fé.

Hoje vivemos uma era onde impera a tecnologia da informação. É o que J. Zuffo chamou de “a infoera”. Esta tecnologia questiona inclusive as religiões sobre o “como comunicar”. Se ao se sistematizarem, as religiões sempre desenvolveram “o quê comunicar”, hoje essa necessidade passa a um segundo plano. Não porque perde a importância as constantes releituras e atualizações das doutrinas religiosas, mas sim porque a velocidade e a dinâmica que a tecnologia da informação imprime, exige reações de mesma magnitude. A reflexão de hoje não pode acompanhar tal dinâmica, mas são referenciais para as comunicações futuras. Porém fica a necessidade da comunicação de hoje, do momento, do instante, que não espera a resposta da reflexão. 

Temos então um desafio para as religiões: como ser eficiente ao comunicar respostas aos questionamentos humanos, com a agilidade que o mundo atual exige, sem perder sua identidade doutrinal?

Precisamos perceber que o “como se comunicar” e “o quê se comunicar” exigem cuidados e sistematizações diferentes. A realidade da comunicação virtual exige cuidados específicos no âmbito do “como se comunicar”. O mundo virtual não pretende influenciar o conteúdo da informação, mas determina condições específicas em seus processos comunicativos. Por isso as religiões devem se preparar também para a comunicação pela internet de uma forma especial para este veículo, e não transferindo técnicas que eram utilizadas em outros meios e veículos de comunicação para esta nova realidade.

Pesquisas de campo


A percepção e o entendimento da internet como uma realidade que deve obrigatoriamente fazer parte do cotidiano do ser humano já é patente entre as religiões. 

A Igreja Católica escreveu: “É importante também que as pessoas, em todos os âmbitos da Igreja, lancem mão da internet de maneira criativa, para assumirem as responsabilidades que lhes cabem e para ajudarem a Igreja a cumprir a sua missão. Na perspectiva das inúmeras possibilidades positivas apresentadas pela Internet, não é aceitável hesitar timidamente, por medo da tecnologia ou por algum outro motivo” (PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Igreja e Internet. Cap. 10, 2002). Portanto a evangelização deve acontecer também pelos meios virtuais, pela internet.

Foi realizada uma pesquisa em sites de língua portuguesa através de um site de busca com uma base de dados de mais de 2 bilhões de páginas. O objetivo da pesquisa era apenas de caráter lingüístico. Sem a preocupação da interpretação das palavras utilizadas nos sites, a pesquisa procurou quantificar a ocorrência de algumas palavras chaves. Chegamos aos valores de ocorrência de determinadas palavras nos sites. Esses valores não possuem utilidade se utilizados de forma separada, porém são bem interessantes para uma análise comparativa. Segue algumas informações resultantes desta pesquisa:

-         a palavra Deus aparece mais do que palavras como remédio, pessoa, alimentação, futebol, político, médico/a, advogado/a, deputado/a, vereador/a, pai, mãe.

-         as palavras Deus, Igreja, Cristo, religião e fé somadas possuem uma ocorrência maior do que palavras como saúde, trabalho e política.

-         Consideramos um grupo de religiosos e sacerdotes compostos pelas palavras Padre, Bispo/a, Pastor/a, Rabino/a, Sheik, Monge/ja. Esse grupo é superior à ocorrência das palavras advogado/a, engenheiros/a, deputado/a, vereador/a, senador/a, pai/mãe e político.

Esta pesquisa mostra que o universo religioso já está participando significativamente da internet. A grande questão é a participação de forma adequada do ponto de vista comunicativo. O novo veículo (internet) exige uma nova forma de se comunicar e não uma transferência de modelos antigos. É preciso lembrar também que se encontramos uma grande oferta de sites que tratam de assuntos religiosos, há também significativa visitação destes sites, ou seja, há também grande demanda. Por isso a comunicação no mundo virtual atinge considerável número de pessoas e, certamente, reflete no campo religioso físico.

A internet potencializa a capacidade de comunicar, ultrapassando barreiras geográficas, temporais e sociais. A comunicação inadequada também é potencializada produzindo situações negativas de grande porte. Um programa ruim de televisão leva no máximo a uma mudança de canal por parte de quem assiste. A televisão é um veículo de comunicação passiva. A grande novidade da internet é sua interatividade que muitas vezes acontece em tempo real. Quem entra em um site, além de receber as informações contidas no site, reage a essas informações e acrescenta novas informações. Há possibilidades de debates e discussões no momento em que se colocam as informações. A dinâmica da comunicação caracteriza a internet.

Um esquema para a comunicação virtual

A seguir propomos um esquema de planejamento para uma comunicação virtual adequada: 

-         Objetivo e conteúdo: este item é resultado primeiro da doutrina e da razão de ser de cada religião. Não é próprio da internet, é próprio da religião. Qual a sua identidade e o quê comunicar aos seus fiéis e às pessoas que não conhecem a religião. É uma fase de sistematização doutrinal.

-         Linguagem: este item é próprio da internet no sentido de que no mundo virtual é necessário utilizar linguagens específicas. Trabalhar o equilíbrio entre textos e imagens. Pensar na relação de cores. Lembrar que quem acessa lê as informações de um vídeo, e por isso o tamanho das páginas deve ser compatível com a formatação do texto. Desenvolver um acesso didático e de fácil utilização. Internet não é revista, nem jornal, nem televisão e nem rádio. Não trazer técnicas de revista ou de televisão para a internet. É uma nova linguagem que deve ser trabalhada.

-         Interação: esse item já foi discutido. Lembramos que um site deve interagir com quem o acessa, não porque é agradável e diferente, mas porque sem interação, a pessoa desiste do acesso e procura outro site. O uso da internet acontece porque é possível a interação. Se tal interação não existir, troca-se o canal como se faz com a televisão. A diferença é que podemos contar hoje com uns 100 canais de televisão. Na internet são centenas de milhares de possibilidades em várias partes do mundo.

-        Comunicação virtual: após as fases descritas se dá a comunicação virtual. A relação entre estas fases deve ser harmônica, criativa e aberta. Aberta no sentido de que um site nunca está pronto, finalizado. A interação deve levar necessariamente a mudanças na linguagem e na estrutura do site. Por isso a avaliação de desempenho do site é importante e deve levar sempre à novas abordagens no processo de comunicação.

Finalizamos estas reflexões com um alerta: “O fato de que, através da internet, as pessoas multiplicam os seus contatos de maneiras até agora impensáveis, oferece maravilhosas oportunidades para a propagação do Evangelho. Todavia, é também verdade que as relações mantidas eletronicamente jamais podem substituir o contato humano direto, necessário para uma evangelização autêntica, porque a evangelização depende sempre do testemunho pessoal daquele que é enviado para evangelizar” (PAPA JOÃO PAULO II – Internet: um novo foro para a proclamação do Evangelho. Mensagem por ocasião do dia mundial das comunicações, 2002).

As religiões não podem perder a dimensão humana dos relacionamentos. Pensar em um mundo virtual só tem sentido como complementar ao mundo físico. O fechamento a uma nova forma de comunicar ou a adoção dessa nova forma como única, não pode fazer parte de nenhum projeto religioso. As religiões devem fazer parte do mundo, do mundo todo, inclusive do mundo virtual.

Abraços

Rodrigo

Rodrigo é Teólogo, Engenheiro e portador de E.M. (Esclerose Múltipla). Vive em Tapiraí, SP, Brazil. Depois de saber que tinha a E.M. conheceu outros portadores que o ensinaram muito sobre como viver diante de dificuldades físicas. 

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