Oi Amiga, Oi Amigo,
A palavra ReLigar expressa algo que estava ligado a outra
coisa, se separou dela e volta a estar ligado novamente. Muitas coisas em nossa
vida (trabalho, amigos, etc.) deixam de estarem unidas e se separam ou de nós
ou de outras coisas ou de outras pessoas.
Com este pensamento podemos pensar em uma grande
Religação...a Religião! Esta palavra vem da palavra ‘Religare’. A idéia sobre o
surgimento desta palavra é que no passado o ser humano estava ligado a Deus e
por algum motivo ele se desligou de Deus. Por isso acontecem várias religiões. São
tentativas de fazerem o ser humano voltar a estar em Deus. Veja que não é
discutir se a religião A ou se a religião B está certa ou se está errada. Mais
do que isso é perceber Deus em cada religião.
Então cada pessoa tem a sua própria religião e ao Viver os
valores de sua religião volta a Ligar o que um dia foi desligado. Perceba a
afirmação, o ‘Viver os valores de sua religião’. É participar das coisas que
ela acredita e ela deve ser capaz de aceitar que existem outras pessoas, muitas
pessoas, que são diferentes dela.[1]
Religião e Medicina sempre foram termos inseparáveis. Achava-se
que a espiritualidade podia ser um método de cura de males físicos dos doentes.
Antigamente se entendia que as doenças eram causadas por
deuses, espíritos e mágicas. Mostrava um desequilíbrio entre as influências
favoráveis e desfavoráveis.
A Medicina vai ficando mais científica e acaba se
distanciando da Fé e da Espiritualidade.
Albert Einstein fez a primeira menção sobre o mundo
científico da modernidade de que a ciência estaria ligada a religião. “A
ciência sem a religião é manca. A religião sem a ciência é cega.” Einstein
acreditava que ciência e religião eram campos complementares e dependentes.
Declarou que “todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm
de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam
infrutíferas”. Einstein rompe a idéia de que ciência e religiosidade eram
incompatíveis.[2]
A espiritualidade é fundamental no processo de cura por isso
é interessante implantá-lo nos serviços de saúde.
Religiosidade X Espiritualidade
Não existe uma definição universal para esses dois termos e
normalmente eles são confundidos. Enquanto a religiosidade pode ser vista como
expressão pública, a espiritualidade é vista como algo mais pessoal.
A espiritualidade não se limita a alguns tipos de crenças.
Deve posicionar-se sobre o significado da vida e da razão de viver antes de
qualquer crença.
A religiosidade é a manifestação da religião. Nos últimos
anos a religião passou a ser entendida como uma espiritualidade
institucionalizada enquanto que aquelas que não se organizaram possuindo uma
realidade material e uma realidade não material ficaram conhecidas como apenas
espiritualidade refletindo os conflitos entre as possibilidades e limitações da
história da existência do humano.
A religiosidade e a espiritualidade são valores que devem ser
unidas e utilizadas quando são abordadas as enfermidades e a promoção da saúde
do paciente.
Os impactos da fé sobre
a doença e o adoecer
Uma enfermidade provoca uma surpresa porque tira a pessoa de
seu ritmo normal de vida, muda os seus planos, confunde os seus alvos.
Um problema de saúde pode ser um sinal de alerta para que a
pessoa reavalie a sua vida. O doente reavalia, entre outras coisas, como se
relaciona consigo mesmo e com os outros. Doença e cura representam o ponto de
encontro entre a medicina e a religião. Os grandes avanços científicos na área
médica têm levado o médico e seus pacientes a uma visão mais aberta da
espiritualidade. A fé ajuda a reduzir o estresse dos tratamentos. Descobriu-se
que as endorfinas são liberadas por estímulos desencadeados pela prática da fé
altruísta.
A oração é a forma de expressão da espiritualidade. O Dr.
Alex Carrel, prêmio Nobel de biologia, afirmou “a influência da oração na saúde
está tão bem demonstrada quanto a secreção das glândulas”[3]. A
religiosidade é capaz de aumentar a longevidade do ser humano. O setor médico
dedica uma especial atenção à interligação da medicina com a religiosidade.
Deve-se ressaltar que a religião Não é uma substituta
ou alternativa dos tratamentos convencionais. A fé é um grande sustentáculo na
vida do paciente e se revelou como fator de motivação para enfrentar a doença.
Ela passa a ser o escudo que protege, conforta e prepara.
A espiritualidade desempenha um importante papel na vida da
maioria das pessoas e está diretamente relacionada com o desejo de viver, o
medo da morte e a qualidade de vida relacionada ao bem estar físico e mental.
O profissional da saúde
e da espiritualidade
Os profissionais da saúde e os pacientes estão, cada vez
mais, insatisfeitos e com isso eles acabam recorrendo à espiritualidade no
campo científico.
A experiência da doença leva o médico e o paciente para além
das fronteiras conhecidas, leva ao mistério desconhecido da vida humana. É por
isso que essa relação acaba acontecendo com certa sacralidade. Essa sacralidade
conduz o humano a um sentimento de fragilidade lembrando de que ele é mortal.
Presenciar essa situação faz com que o profissional da saúde que presencia isso
saia em busca de uma religiosidade desvinculada do dogmatismo das religiões
tradicionais.
Outro ponto importante é trabalhar a espiritualidade do
trabalhador da saúde. Estes trabalhadores participam de um processo de
humanização onde vão participar de um processo que os humaniza frente a sua
relação com os pacientes para não entrarem em um processo de anestesiamento de
sentimentos e emoções. A assistência do profissional de saúde deve estar
pautada nos valores e crenças do indivíduo que ajude ele a auxiliar ao paciente
desenvolver a espiritualidade em meio a um mal físico, uma doença.
Muitos pacientes gostariam de discutir temas espirituais com
seus médicos.
A importância da
espiritualidade na doença
A vida abafa a dimensão espiritual enquanto que o sofrimento
e o risco de morte revela esta dimensão. Isso é observado quando abordamos
doenças degenerativas onde o contato com o sofrimento será gradativo e
prolongado.
A espiritualidade é um mecanismo para lidar com a doença e
fazer os pacientes conviverem melhor com suas situações de doença.
Na religião e nas experiências espirituais os pacientes
encontram conforto para lidar com a sua doença. A espiritualidade e a religião
podem fazer que o paciente se adaptasse ao diagnóstico de uma doença grave.
Conforme observou Kovács “quando falamos em qualidade de
vida, estamos diante de um termo muito difícil de ser operacionalizado, que
envolve aspectos como a satisfação da vida, além da diminuição do sofrimento e
da dor tanto física quanto psíquica, social e espiritual”.[4]
A expressão “qualidade de vida” é composta por: subjetividade
e multidimensionalidade. A subjetividade é entendida na dimensão do paciente e
a multidimensionalidade é um conjunto de fatores (bem-estar físico, funcional,
emocional e social).
Uma expressão melhor é ‘quantidade de vida’ pois falar de
qualidade de vida é falar vida duas vezes, pois se não houver qualidade não é
vida. Agora pode se mensurar isso, ou seja, mais vida ou menos vida, mais
felicidade ou menos felicidade, mais dificuldades ou menos dificuldades,
ou...ou... Por isso a palavra quantidade é melhor que a palavra qualidade.
As crises nos dão oportunidades de nos ligarmos a dimensões
mais elevadas e profundas por meio da criação de conexões que estavam faltando
em nossa existência.
Precisamos repensar nossos modos de agir, nosso estilo de
vida e nossa escala de prioridades e valores.
Ao pensar em doença deve ser considerado o cuidado paliativo (suporte
familiar, suporte social e questões espirituais) que é muito importante e não
pode ser negligenciado.
Nas doenças neurodegenerativas as pessoas que cuidam do
paciente (marido, esposa, cuidador, etc.) podem apresentar depressão e estresse
excessivo necessitando de apoio psicológico e espiritual.
A Espiritualidade é um fator significativo para que as
pessoas envolvidas a cuidarem do doente possam lidar com ele.
Devemos dar importância para as crenças espirituais dos
doentes e seus familiares.
Desse modo teremos uma melhor qualidade de vida dos
doentes e de seus familiares, além de minimizar o sofrimento causado pela
doença.
As definições Religiosidade e Espiritualidade são diferentes,
mas acabam se confundindo:
- Religiosidade èfoco na religião, na forma como a
pessoa expressa a sua Espiritualidade. É muito direcionada à expressão de como
a pessoa expressa (e entende) a sua Espiritualidade. Pode se tornar apenas
conjunto de atividades.
- Espiritualidade èé o elemento que move e dá sentido a
Religiosidade.
A busca por definições desses dois termos (Religiosidade e
Espiritualidade) sempre aconteceu como a história humana mostrou.
Precisamos resgatar a Espiritualidade sem nos tornarmos
escravos de alguma Religiosidade. A Espiritualidade vem Antes da Religiosidade.
A primeira deve conduzir à segunda. Hoje acontece o contrário.
A relação paciente e médico acabam acontecendo de uma forma
que o paciente fica muito submisso ao médico e depois essa submissão também vai
acontecer no campo religioso.
O ser humano se descobre sempre envolvido com Deus. Esse
envolvimento acontece em um meio cultural que coloca em choque um conhecimento racional
sobre a Religião e um conhecimento experiencial sobre a Religião. Em situações
ligadas a Saúde essas duas formas de conhecimento podem ficar polarizadas entre
o médico (conhecimento racional) e o paciente (conhecimento experiencial).
As relações da vida humana devem ser pautadas pela
espiritualidade. O contato com Deus leva ao entusiasmo. Esta palavra mostra
estar em Deus. Entusiasmo, no grego, significa Deus conosco. Pensar em
entusiasmar vai levar diretamente a uma espiritualidade.
A forma de conviver com uma doença crônica ou qualquer
dificuldade que possa aparecer é estar com Deus, estar entusiasmado.
[1]
DRUBI R. Rodrigo e a E.M. Superando...
Rio de Janeiro: Multifoco; 2012, pg.17.
[2]
JAMMER M. Einstein e a religião: física e teologia. Rio de Janeiro:
Contraponto; 2000.
[3]
MEZZONO AA. Fundamentos da humanização
hospitalar: uma visão multiprofissional. São Paulo: Loyola; 2003.
[4]
KOVÁCS MJ, et al. Morte e desenvolvimento
humano. São Paulo: Casa do psicólogo; 2002.
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