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AME |
Oi Amiga, Oi Amigo,
A internet é apresentada como uma ferramenta de
comunicação. Na verdade é bem mais do que isso: é uma nova forma de se
comunicar que exige uma renovação em todo o processo comunicativo. Acontece em
todas as dimensões do relacionamento humano. Em especial também na dimensão da
fé. Como pensar a fé frente à dinâmica da internet? Considerando que é uma
comunicação rápida, abrangente e muitas vezes solitária, como as religiões
podem participar deste “novo mundo” sem perder a sua identidade?
Precisamos ter presente que toda religião é
fundamentalmente comunicação. Seja o humano se comunicando com o divino, seja o
divino se comunicando com o humano. As religiões comunicam suas experiências de
fé.
Hoje vivemos uma era onde impera
a tecnologia da informação. É o que J. Zuffo chama de “a infoera”. Esta
tecnologia questiona inclusive as religiões sobre o “como comunicar”. Se ao se
sistematizarem, as religiões sempre desenvolveram “o quê comunicar”, hoje essa
necessidade passa a um segundo plano. Não porque perde a importância as
constantes releituras e atualizações das doutrinas religiosas, mas sim porque a
velocidade e a dinâmica que a tecnologia da informação imprime, exige reações
de mesma magnitude. A reflexão de hoje não pode acompanhar tal dinâmica, mas
são referenciais para as comunicações futuras. Porém fica a necessidade da
comunicação de hoje, do momento, do instante, que não espera a resposta da
reflexão. Temos então um desafio para as religiões: como ser eficiente ao
comunicar respostas aos questionamentos humanos, com a agilidade que o mundo
atual exige, sem perder sua identidade doutrinal?
Precisamos perceber que o “como
se comunicar” e “o quê se comunicar” exigem cuidados e sistematizações
diferentes. A realidade da comunicação virtual exige cuidados específicos no
âmbito do “como se comunicar”. O mundo virtual não pretende influenciar o
conteúdo da informação, mas determina condições específicas em seus processos
comunicativos. Por isso as religiões devem se preparar também para a
comunicação pela internet de uma forma especial para este veículo, e não
transferindo técnicas que eram utilizadas em outros meios e veículos de
comunicação para esta nova realidade.
A percepção e o entendimento da
internet como uma realidade que deve obrigatoriamente fazer parte do cotidiano
do ser humano já é patente entre as religiões.
Na perspectiva das inúmeras
possibilidades positivas apresentadas pela Internet, não é aceitável hesitar
timidamente, por medo da tecnologia ou por algum outro motivo.
Foi realizada uma pesquisa em
sites de língua portuguesa através de um site de busca com uma base de dados de
mais de 6 milhões de páginas. O objetivo da pesquisa era apenas de caráter lingüístico.
Sem a preocupação da interpretação das palavras utilizadas nos sites, a
pesquisa procurou quantificar a ocorrência de algumas palavras chaves. Chegamos
aos valores de ocorrência de determinadas palavras nos sites. Esses valores não
possuem utilidade se utilizados de forma separada, porém são bem interessantes
para uma análise comparativa. Segue algumas informações resultantes desta
pesquisa:
a palavra Deus aparece mais do que palavras como
remédio, pessoa, alimentação, futebol, político, médico/a, advogado/a,
deputado/a, vereador/a, pai, mãe.
as palavras Deus, Igreja, Cristo, religião e fé somadas
possuem uma ocorrência maior do que palavras como saúde, trabalho e política.
Consideramos um grupo de religiosos e sacerdotes
compostos pelas palavras Padre, Bispo/a, Pastor/a, Rabino/a, Sheik, Monge/ja.
Esse grupo é superior à ocorrência das palavras advogado/a, engenheiros/a,
deputado/a, vereador/a, senador/a, pai/mãe e político.
Esta pesquisa mostra que o
universo religioso já está participando significativamente da internet. A
grande questão é a participação de forma adequada do ponto de vista
comunicativo. O novo veículo (internet) exige uma nova forma de se comunicar e
não uma transferência de modelos antigos. É preciso lembrar também que se
encontramos uma grande oferta de sites que tratam de assuntos religiosos, há
também significativa visitação destes sites, ou seja, há também grande demanda.
Por isso a comunicação no mundo virtual atinge considerável número de pessoas e
reflete no campo religioso físico.
A internet potencializa a
capacidade de comunicar, ultrapassando barreiras geográficas, temporais e
sociais. A comunicação inadequada também é potencializada produzindo situações
negativas de grande porte. Um programa ruim de televisão leva no máximo a uma
mudança de canal por parte de quem assiste. A televisão é um veículo de
comunicação passiva. A grande novidade da internet é sua interatividade que
muitas vezes acontece em tempo real. Quem entra em um site, além de receber as
informações contidas no site, reage a essas informações e acrescenta novas
informações. Há possibilidades de debates e discussões no momento em que se
colocam as informações. A dinâmica da comunicação caracteriza a internet.
Finalizamos estas reflexões com
uma alerta: As relações mantidas eletronicamente jamais podem substituir o
contato humano direto. As religiões não podem perder a dimensão humana dos
relacionamentos. Pensar em um mundo virtual só tem sentido como complementar ao
mundo físico. O fechamento a uma nova forma de comunicar ou a adoção dessa nova
forma como única, não pode fazer parte de nenhum projeto religioso. As
religiões devem fazer parte do mundo, do mundo todo, inclusive do mundo
virtual.
Rodrigo